NADA MAIS QUE A VERDADE
A parceria bem sucedida de Walter Salles e Daniela Thomas se estreitou ao longo dos anos, os dois se reencontraram em 1998 na direção de O Primeiro Dia, e dez anos depois realizaram mais um filme de longa-metragem, Linha de Passe, que surge e desmistifica, em termos, o conceito de ficção em cinema, possibilitando reconhecer a evolução do cinema brasileiro e comprovar a qualidade cada dia maior de nossas produções. Linha de Passe é a prova do cinema de ficção com essência documental, no qual a veracidade dos fatos, sem falsear o universo representado, aproxima o espectador da realidade anunciada, e provoca um envolvimento mais estreito num reconhecimento pontual do real.
Assim como no futebol, onde a “linha de passe” configura a troca da bola entre jogadores de um mesmo time sem a interceptação do adversário, afim de um objetivo comum, no filme, esse jogo se traduz na busca dos personagens por objetivos de vida e suas razões. Sandra Coverloni vive Cleuza, mãe devotada de quatro filhos e à espera do quinto, uma mulher lutadora, mas sofredora, que vive em função dos filhos (e de ter filhos), Denis, Dario, Dinho e Reginaldo. Os personagens principais em Linha de Passe são guiados através de um eixo que não nos possibilita discernir se algum deles é mais significativo que outro, configurando igualmente a importância de cada um deles na trama, assim como os jogadores em um jogo de futebol. Eles reinventam as suas próprias vidas para fugir dos seus possíveis destinos, na busca pelas suas identidades. Os personagens possuem movimentos fluidos e seguem num mesmo sentido, dando essa espécie de uniformidade entre eles, que apesar dos perfis diferentes, possuem uma mesma sintonia. Além disso, as seqüências são muito bem construídas e não dão margem à dúvida em relação à veracidade delas.
A tendência brasileira de realizar filmes com essa perspectiva se trata de uma afirmação da cinematografia nacional, explorando a originalidade no tratamento dos temas abordados, e estabelecendo um diálogo com elementos nacionais, com intenção de revelar os anseios do povo. O retrato da grande metrópole, a captação do movimento da cidade e na cidade pela câmera, narrando misérias, dramas e contradições da sociedade, concluem essa idéia de posicionar os personagens dentro de uma perspectiva do real. Um ponto chave, importante na construção do filme é essa câmera em constante movimento, sem contar a montagem bem realizada, sem buracos e sem falhas graves que venham a prejudicar a sincronia dos acontecimentos. Mas o importante mesmo é saber que a grandiosidade de uma obra não se configura pela norma ou padrão estético pré-estabelecido, e decerto que a simplicidade e a originalidade não impedem o reconhecimento da beleza de um filme como Linha de Passe que traduz com detalhes a “feiúra” da realidade.
2 comentários:
perfeito. muito bom!
e tb deve ser mais fácil mostrar a realidade qndo se tem "pouca verba" e, principalmente sem precisar de grandes efeitos especiais ou criar uma história totalmente nova.
de qualquer forma, LINHA DE PASSE é um filme bom e vale a pena (sempre) valorizar e ver filmes nacionais.
abraços
e bom retorno ao nosso blog, né? rs
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